O quadro ainda é nosso melhor amigo!

Quando comecei oficialmente como professor de Geografia (assumindo turmas do Ensino Médio) preparava as aulas predominantemente com o uso de slides no Power Point. Os slides são recursos importantíssimos para contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, pois possibilita projetar imagens que normalmente não estariam disponíveis para os estudantes.

Acontece que ao longo das aulas que ministrava algo sempre me incomodava: boa parte das turmas não faziam anotações durante as aulas. Acredito que fazer anotações é importante para estudar os conteúdos trabalhados e depois revisa-los no livro didático. Dessa forma, perceber que apenas a menor parte da turma estava anotando os conteúdos me deixava inquieto. Sempre usava o quadro, porém com a finalidade de desenhar esquemas e representações do espaço geográfico.

Até que um dia me veio a ideia de escrever no quadro os conceitos e tópicos que estavam nos slides. Parece uma coisa tão óbvia, tão simples! Porém, foi a partir daí que pude notar que mais estudantes começaram a fazer anotações daquilo que estava abordando nas aulas. Parece mesmo que o ser humano executa determinadas ações através da imitação de outro ser humano.

A partir daí a ficha caiu por uma atração gravitacional tremenda. Desde então venho preferindo escrever conceitos e tópicos no quadro e deixo nos slides imagens, fotos, mapas, gráficos e tabelas para ajudar a ilustrar melhor os conteúdos que estão sendo abordados. Sei que para muitas pessoas isso é uma coisa bastante óbvia, mas para quem está iniciando sua trajetória na docência essas situações não são tão nítidas.

Portanto, decidi escrever sobre essa experiência para auxiliar colegas que tenham passado por situação semelhante à minha.  Espero que ajude a alguém que se encontra na mesma situação que eu: no início da carreira docente. Muitas vezes não encontramos essas dicas nos livros acadêmicos ou nas aulas de Didática na graduação.

Isso tudo só constata que mesmo com tantos aparatos tecnológicos no universo educacional o quadro ainda pode ser o nosso melhor amigo.



Por que eu devo ser o responsável pelo interesse do e da estudante?

Sem dúvida, em algum momento da nossa prática docente já nos perguntamos o que poderíamos fazer para tentar instigar mais nossas turmas a se interessarem ou mesmo gostarem das nossas aulas e conteúdos. Porém, cabe unicamente a nós professores e professoras a responsabilidade de estimular os e as estudantes a demonstrarem mais interesse sobre nossa componente curricular?

Antes de iniciar minha trajetória como professor e ainda no início dela eu chegava a acreditar que eu era diretamente responsável pela demonstração de interesse dos alunos e das alunas nas aulas que ministrasse. Já que eu era a pessoa que iria construir conhecimento através dos conteúdos organizados no currículo da minha componente devia sim ser eu o principal responsável por instigar a turma nas aulas. E se esse interesse não fosse devidamente demonstrado a culpa deveria recair sobre mim, consequentemente. Ledo engano...

Aos poucos passei a me dar conta de que existem muitos outros fatores que fugiam ao meu controle no momento de ministrar a aula, desde a estrutura da escola até a vida pessoal de cada aluno e aluna. Mesmo que eu preparasse e ministrasse a melhor aula do mundo e da minha vida isso não iria garantir que as pessoas ali da minha turma demonstrassem o interesse condizente com a minha prática pedagógica naquele momento.

Isso foi e é importante para compreender que não: não temos a obrigação de estimular ninguém a se interessar sobre nossos conteúdos.  Primeiro que em nossa formação não cursamos a componente de "Como fazer a sua turma se interessar em sua aula". Segundo que esses outros fatores alheios à aula em si muitas vezes são determinantes para permitir o interesse do aluno ou aluna no conteúdo.

Muitas vezes essas pessoas acordam de 4h da manhã para assistir aulas às 7h sem nem ter comido algo. E também foram dormir de meia-noite fazendo um trabalho para acordar nesse horário. Outras vezes aconteceu algum problema na família que abalou emocionalmente a aluna ou aluno. O ar condicionado da sala não está funcionando e todo mundo está morrendo de calor (inclusive o professor que vos fala). São tantos os fatores que fogem ao nosso controle quando estamos ministrando a aula...

Portanto, eu não tenho mais essa percepção (inocente) que preciso a todo custo fazer com que a turma esteja em todas as aulas interessada nos conteúdos ministrados. Vão haver momentos que a pessoa A pode estar mais instigada e a pessoa B não. Podem haver aulas que aconteça o contrário. Podem haver aulas que ninguém esteja interessado e estejam contando os minutos para acabar o horário. E assim por diante.

Ter essa compreensão me ajudou a tirar um pouco o peso das costas que carregava em achar que se toda a turma não estivesse 100% interessada nas minhas aulas eu estava fracassando como educador. Isso não quer dizer que eu não deva me empenhar em preparar e ministrar uma aula interessante e que cumpra efetivamente o papel do processo de ensino-aprendizagem. Porém, não preciso achar que tenho que carregar sozinho o peso de instigar as pessoas a se interessarem pelos conteúdos da minha componente curricular.